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ENTREVISTA
A iniciativa privada maringaense está, em grande parte, tomando pra si a responsabilidade de executar projetos técnicos públicos que não sairiam do papel se fossem depender dos governos municipal, estadual e federal. A síntese foi feita pelo empresário José Carlos Barbieri, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (ACIM) e CEO do Centro Universitário Cidade Verde (UniCV).
Em entrevista ao Portfólio, Barbieri falou da importância desses projetos para a comunidade, a exemplo do Hospital da Criança, do rebaixamento da linha férrea, do Centro de Eventos e das novas concorrências para a concessão das rodovias estaduais e federais da região. Também adiantou que está otimista em relação ao Natal, quando serão injetados na economia local R$ 517 milhões provenientes do pagamento do décimo terceiro salário.
Portfólio – O Paraná já licitou, na Bolsa de Valores, em São Paulo, os Lote 1 e 2 do novo pacote de rodovias a serem administradas pela iniciativa privada. Junto com os outros lotes, será o maior projeto de concessão rodoviária da América Latina, com 3,3 mil quilômetros de rodovias e R$ 50 bilhões em investimentos. Como a ACIM acompanha e cobra a qualidade dessas licitações?
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José Carlos Barbieri – Há muito tempo a ACIM tem se preocupado com as rodovias. É o caso da duplicação dos 21 quilômetros entre Maringá e Iguaraçu, que só está sendo possível depois que doamos um projeto cujo o valor era de R$ 700 mil. A obra só foi licitada após a doação dos projetos e readequações feitas pelos empresários.
O mesmo acontecerá com o viaduto de Sarandi. Coube à iniciativa privada custear o projeto para que a obra seja licitada, mas ainda não há data. Recentemente também doamos o projeto para a construção do novo trevo do Catuaí.
Nossa maior preocupação é ter que voltar a pagar pedágio usando lotes não duplicados. Já tivemos isso na concessão anterior. Agora esperamos que a duplicação seja de imediato, obedecendo os contratos.
P – Nesses novos modelos de concessão das rodovias, foram incluídas estradas vicinais que devem ser duplicadas, mas que não têm movimento suficiente para repor o aporte das empresas. A Econorte, por exemplo, não se candidatou no lote dela.
JCB – Todas as rodoviais deveriam passar por um estudo prévio, saber se tem tráfego condizente para a duplicação. Caso contrário, vamos aumentar os custos nas rodovias principais, pagando caro para ter as vicinais duplicadas. É importante fazer uma contagem de veículos.
P – A ACIM também está fazendo um estudo sobre a viabilidade de duplicação do trevo de 70 quilômetros entre Paranavaí e Nova Londrina, não?
JCB – Contratamos uma empresa que instalou uma câmera para registrar o número de carros e caminhões que circulam no trecho. Tudo para saber se há trânsito suficiente para a duplicação.
O investimento mensal no Hospital da Criança será de R$ 13 milhões. É muito alto.
P – O que a Acim fez em relação ao Hospital da Criança de Maringá e como a entidade vê essa situação do hospital parado?
JCB – O hospital não tinha projeto para o asfalto no entorno. A ACIM acabou bancando o projeto, para que fosse encaminhado ao governo. A nossa preocupação, junto com a prefeitura, a Secretaria de Estado da Saúde e o Governo Federal é saber se vamos ter condições de encontrar alguma fundação que possa disponibilizar cerca 40% do atendimento privado e 60% do SUS.
Pelas conversas que estamos tendo, para manter o hospital, o investimento mensal será de R$ 13 milhões. É muito alto. Então não existe ainda uma definição pra saber se o dinheiro vem todo da União, Estado ou Município. Estão vendo qual será o percentual de cada um. É um hospital grande e também é de pesquisa.
P – Por que os empresários passaram a investir em projetos técnicos, já que são atribuições das gestões públicas?
JCB – Existem verbas disponíveis do Estado e da União, mas faltam projetos. Então, quando somos demandados por esses projetos a gente se une, levantamos os custos e contratamos uma empresa para que o dinheiro possa chegar. Um exemplo foi o projeto do Oscar Niemeyer (para a construção do Centro de Eventos). Foi feito há muitos anos e precisava ser atualizado. Nós contratamos o próprio escritório do Niemeyer para fazer essa atualização.
P – Quem deveria fazer esses projetos que estão partindo da iniciativa privada?
JCB – Depende da obra. Deveria ser o município, o Estado ou União. O rebaixamento da linha férrea, por exemplo, da Avenida Pedro Taques até Sarandi. O projeto inicial foi de R$ 900 mil e não tínhamos a União para fazer. Então, nos unimos com a Associação Comercial de Sarandi e levamos para o Codem (Conselho de Desenvolvimento de Maringá) essa discussão sobre a mobilidade entre as duas cidades .
A prainha, particularmente, acho que não é o melhor projeto para Maringá nesse momento
P – A criação da Prainha pela Prefeitura de Maringá, um espaço de lazer na cidade, é acompanhada pela ACIM?
JCB – Particularmente, não é o melhor projeto para Maringá nesse momento. Temos que melhorar a mobilidade, focar nos programas sociais e de formação de mãos de obra. O Brasil todo precisa de mão de obra qualificada.
P – Aproveitando a deixa, como o senhor avalia a atual gestão do prefeito Ulisses Maia?
JCB – (Breve silêncio) Prefiro não comentar.
P – Verificamos que a Agência do Trabalhador teve um número recorde de vagas. Mas ao mesmo tempo, estão contratando pouco. Isso é pela falta de formação de mão de obra ?
JCB – Já existem programas municipais e temos que aumentar. A gente não consegue contratar por falta de qualificação. Mas as empresas estão se organizando por meio de universidades. Nós mesmos (UniCV) já formamos mão de obra pra Recco Lingerie e, pela segunda vez, pra Gazin.
Acredito que quando o aeroporto for internacional para cargas, teremos mais indústrias vindo pra cá
P – Estão ocorrendo muitas novas instalações de comércio, mas quase não temos atraído indústrias, principalmente de grande porte. Por que?
JCB – Desde a década de 1990, o projeto Repensando Maringá defendeu que as indústrias na cidade não devem ser poluentes. Devem gerar emprego e renda com qualificação. Desde então, a cidade se tornou uma prestadora de serviços: educação, saúde e indústria de tecnologia. Temos aqui grandes pleyers da educação, como a UniCesumsar, com mais de mil polos de EaD, nós da UniCV temos 780 polos e a Uningá uns 300. Na área da saúde existem grandes médicos, que atraem pacientes para Maringá. Temos empresas de TI que prestam serviços para o país todo e fornecem softwares. Eu acredito que o setor de Serviços traz mais ISS pra prefeitura, emprego e renda acima da média.
Acredito que quando o aeroporto for internacional para cargas, teremos mais indústrias vindo pra cá. Falta pouco pra homologação que esperamos que aconteça no primeiro semestre de 2024.
P – Qual a expectativa da Acim em relação às vendas de Natal?
JCB – Teremos um Natal melhor do que ano passado. O PIB está crescendo. A projeção é que passe de 2.9% para 3%. Durante 2023, observamos que as feiras que organizamos, como a Maringá Liquida, Feira Ponta de Estoque, de Móveis e Decoração, Exposindico e Expo Imóveis, mostraram que o comércio e as construtoras estão mais animados em poder investir. E vem aí a Black Friday na última semana de novembro.
O pagamento do décimo terceiro salário vai injetar R$ 517 milhões em Maringá. O estudo é do Codem, com base nos dados da Rais e do Caged.
P- Para encerrar, não deixei de notar um discurso mais abrangente e não tão setorial. O senhor pretende ser candidato a prefeito de Maringá?
JCB – (Risos). Não, não… Ainda estou no novo mês na presidência da Acim e vou completar o mandato. E também tenho a UniCV .
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