Milton Ravagnani

Colunista

Milton Roberto da Silva Sá Ravagnani é jornalista , advogado, autor de livros sobre Direito e Filosofia e membro da Academia de Letras de Maringá,

Luta por poder

A delação de Mauro Cid e o MP na berlinda

POR Milton Ravagnani EM 12 DE setembro DE 2023

A Constituição de 1988, por um lobby institucional nunca antes visto na história desse país, concedeu ao Ministério Público uma fatia de poder que nenhum outro ente possui.

Hoje, o MP é mais forte que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Os abusos da Lava Jato (a despeito de todos os seus acertos) são prova disso.

Tentativas de limitar esse poder do MP estão pululando. O STF tem sido rigoroso com o parquet e o Legislativo, agressivo. E os procuradores e promotores sabem bem disso.

Portfolio pelo WhatsApp

Receba as notícias do Portfolio pelo whastsapp no momento em que são publicadas.

Essa luta de poder ainda está começando, mas avançará. E as limitações ao poder ilimitado, atualmente, do MP vão avançar muito mais rápido.

A homologação da delação premiada do tenente coronal Mauro Cid, no âmbito do inquérito das milícias digitais é mais um calo no sapato do MP.

Porque a delação foi oferecida pela polícia (o delegado do caso), e não pelo representante do Ministério Público.

O Procurador Geral da República, Augusto Aras, já arrepiou as penas do pescoço para a homologação sentenciada pelo ministro Alexandre de Moraes, o relator presidente do inquérito (sim, inquérito tem presidente, normalmente o delegado).

Isso porque o MP entende que, por ser ele quem deve oferecer denúncia – e portanto, utilizar provas colhidas em delação – é ele quem deve propor o benefício ao indiciado (durante o inquérito o acusado não é réu, ainda).

O assunto já passou pelo STF duas vezes: na delação de Palocci e na de Sérgio Cabral. E o STF, que não faz coisa julgada contra si (ou seja, pode rever suas próprias decisões sem que isso fira o instituto da coisa julgada), se manifestou de forma contraditória nas duas oportunidades. Na primeira, afastando a necessidade de concordância do MP e, na segunda, reconhecendo sua necessidade, mas excepcionando-a no caso em concreto.

O MP luta, com isso, para manter suas prerrogativas. Mas, essa é uma luta inglória. Porque irá perder no final.

Não porque esteja errado. Isso é algo que, inclusive, deveria ser melhor dialogado com a sociedade. Mas porque o MP está muito forte. E, nessa briga de poder, ninguém quer um ente mais forte do que aquele ao qual pertence. Ninguém, no caso, é quem manda, obviamente. Porque o cidadão eleitor e financiador com seus impostos dessa festa toda, não faz sequer ideia do que se trata.

Assine o Portfolio por apenas R$19/mês

Quanto vale para você uma informação exclusiva que pode mudar o rumo dos seus negócios?

Marcas

Mais notícias

MILTON RAVAGNANI

Duas conclusões

Ulisses pode ter antecipado uma movimentação politica que só deveria acontecer no ano que vem.

Dupla nacionalidade

Cidadania garantida

Congresso altera regra de perda de nacionalidade para quem pedia cidadania estrangeira