Milton Ravagnani

Colunista

Milton Roberto da Silva Sá Ravagnani é jornalista , advogado, autor de livros sobre Direito e Filosofia e membro da Academia de Letras de Maringá,

Projetos

Na ausência do Estado, quem pode se organiza

POR Milton Ravagnani EM 12 DE outubro DE 2023

O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim), José Carlos Barbieri, em sua perspicácia e capacidade de compreensão das forças que regem tanto o tal mercado como a política local, disse a este Portfólio que a iniciativa privada faz projetos de interesse público porque os governos não os fazem.

Singelo, certeiro e eficaz.

Não totalmente, porque os governos fazem, sim, projetos. Parque das águas, meu campinho, Natal Luz, essas coisas. Mas aqueles estruturantes, que modificam de forma definitiva – e não apenas sazonalmente – o meio, esses são mais raros.

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Por óbvio que não é tarefa da iniciativa privada dar conta de tais projetos. Mas, há aí – e é importante aprofundar a questão – não só uma inação estatal de algo que é responsabilidade sua. Há uma supressão do próprio Estado, da ideia de Estado.

Ao se dispor a oportunizar um projeto e oferece-lo ao poder público (dois exemplos, apenas, para não sermos enfadonhos: a duplicação da rodovia Maringá/Iguaraçu e o Eurogarden) o empresariado não está mirando exclusivamente o interesse público, mas o interesse da categoria.

Óbvio.

Sem qualquer questionamento à legitimidade dessas ações que, do ponto de vista democrático é o exercício regular do interesse do segmento. Incontestável.

Acontece que tais projetos vão de encontro direto a esses interesses empresariais. O que, repisa-se, é totalmente legítimo e ético.

Mas, e os demais segmentos da sociedade, especialmente os mais pobres?

Esses não conseguem se organizar e, tampouco, se financiar como fazem os empresários. E, diante de um Estado leniente, estão sempre à deriva das decisões estruturantes.

Claro que a edificação de projetos ofertados pelo empresariado impacta na vida dessas pessoas positivamente, gerando mais oportunidades de emprego e renda. E devem ser festejadas.

Mas, isso ocorre por efeito colateral, não por objetivo.

E é aí que a porca encaracola o rabinho: há um desprezo contumaz dos dirigentes políticos pelos projetos de fundo, estruturantes, para os mais pobres.

Tudo o que vem é paliativo. São propostas que visam mais o fortalecimento da imagem política do governante do que, de fato, a mudança da condição de pobreza.

E não se diga que as estruturas públicas não têm capacidade intelectual ou financeira para propor e realizar projetos dessa natureza. Não existe vontade, mesmo.

Nessas terras de Pindorama, tudo o que se faz no poder público é buscar o poder e manter-se nele. Seja poder político, religioso, financeiro ou bélico.

Consegue entender porque é tão difícil conter o avanço das facções criminosas?

Sim, por falta de interesse.

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