AGRO
Razena usa embalagens tão especiais quanto os cafés que produz
A família cultiva 100 hectares de várias espécies de café no cerrado mineiro, mas só 1%, do Catuaí 144 amarelo é embalado com a marca Razena.
BIOGRAFIA
Nascido em Quatá (SP) em 1944, aos 10 anos Alvaro Fernandes Dias veio com a família para Maringá, onde o pai formava uma fazenda de café. Em 1964 foi para Londrina, onde iniciou o curso de História na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que deu origem à Universidade Estadual de Londrina. Lá foi eleito vereador (1968) pelo MDB. Depois foi deputado estadual, deputado federal duas vezes, governador e senador por quatro mandatos.
A biografia “A travessia de Alvaro Dias”, escrita pelo jornalista José Antônio Pedriali, com passagens pelo Estadão, de SãoPaulo, e pelo O Diário, de Maringá, foi lançada no dia 14/9 em Londrina. Nesta terça-feira (26), o Portfólio falou com o escritor, que retornava de Florianópolis para Londrina, e com o biografado, que se encontrava em Curitiba. Alvaro Dias adiantou que o próximo lançamento será na Capital, em outubro, e que, “provavelmente em novembro” ocorrerá em Maringá. Talvez na proclamada e histórica data republicana.
– O que me motiva é que o lançamento do livro se tornou uma oportunidade de encontro de amigos. Foi assim em Londrina, onde reencontrei gente que não via há muitos e muitos anos. Pessoas importantes nessa travessia, às quais devo muita gratidão, pois tiveram um papel importante, às vezes até anonimamente”.
Portfolio pelo WhatsApp
Nas últimas eleições, depois de muitas bem-sucedidas, Alvaro Dias (Podemos) não foi reeleito. Na entrevista, feita por telefone, ele evitou falar de política. Justificou que tem sido procurado por veículos de comunicação de abrangência nacional, mas que está “em período sabático”, no qual “não ouve, não vê, não fala e nem quer saber de política”. Acrescentou que está se dedicando a organizar sua vida pessoal, “que está uma bagunça”, e aos negócios imobiliários e à “fazenda que restou”.
Mas o Portfolio insistiu. Lembrou que o senador Sérgio Moro (União Brasil), eleito nas últimas eleições, enfrenta problemas na Justiça Eleitoral devido a suposto abuso de poder econômico na campanha eleitoral de 2022 e perguntou:
– O Paraná já teve terceiro turno nas eleições para prefeito de Londrina, em janeiro de 2009. Será que agora vai ter um inédito segundo turno para senador?
Alvaro respondeu:
– Dizem que sim, mas não estou pensando nisso agora. Estou, mesmo, afastado das lides políticas.
E, bem-humorado, redirecionou a conversa sobre o lançamento do livro, que é beneficente. “Lá em Londrina nós doamos tudo que foi arrecadado para uma entidade de assistência a crianças carentes. O pessoal ficou muito feliz. Estamos pensando em fazer isso em Curitiba e em Maringá”. O livro, para o qual Pedriali dedicou um ano e meio de pesquisas, entrevistas, checagens e teclagens, tem 352 páginas, foi editado pela Editora Casa Itália e é vendido a R$ 50 aqui.
A pedido do Portfolio, o autor de 19 livros, sendo o mais recente “A travessia de Alvaro Dias”, José Antônio Pedriali pinçou trechos pitorescos da vida do político que soma 55 anos de vida pública.
E quando o bêbado, personagem frequente nos comícios, sempre posicionado ao pé do palanque, é o companheiro de palanque?
Alvaro enfrentou essa situação na campanha de reeleição para a Câmara dos Deputados, em 1978. E aconteceu no dia em que fez dezesseis comícios no Noroeste e Centro-Oeste do Paraná, o primeiro às onze horas da manhã em Cidade Gaúcha.
Conhecedor da propensão etílica do companheiro, que disputava uma vaga na Assembleia Legislativa, Alvaro o desafiou para tomaram uma dose de cachaça antes de cada comício. “Para inspirar”, justificou.
O desafio foi aceito com alegria, o colega cumpriu a parte dele, Alvaro bebeu junto algumas vezes, em outras deu um jeito de enganá-lo.
Onde estão os homens desta cidade? Onde estão?
Os comícios se sucederam, um helicóptero os levava de cidade em cidade, e o companheiro continuava firme. Escureceu. Chegaram a Japurá. O companheiro, voz tonitruante, fez um discurso arrebatador. Em São Tomé, escala seguinte, ajoelhou-se no palanque e, braços levantados, olhar voltado para o firmamento, evocou Deus e repetiu várias vezes, para delírio da plateia: “Onde estão os homens desta cidade, onde estão?” Quando Alvaro discursava, desferiu vários tapas em suas costas, que quase o arremessaram para fora do palanque, seguidos do vaticínio de que a plateia estava diante do “futuro governador do Paraná”.
Terra Boa encerrou o périplo dos comícios. O companheiro subiu cambaleante ao palanque e, em vez de discursar, vomitou.
Alvaro conquistou o segundo mandato de deputado federal, elegeu-se senador quatro anos depois e, em igual período de tempo, a profecia do companheiro bêbado se consumou.
Adendo do Portfólio:
– Alvaro Dias, o senhor pode revelar se o bêbado dessa história foi eleito e dar o nome dele?
Rindo, Alvaro Dias respondeu:
– Quando o Pedriali me mostrou este trecho do livro, ele disse: “Olha Alvaro, eu aliviei pra você aqui, viu?” Mas eu não enganei o Hélio Manfrinati não, eu bebi todas mesmo.
Os dois foram eleitos.
A Usina Hidrelétrica de Segredo, rebatizada Usina Hidrelétrica Governador Ney Aminthas de Barros Braga, é a segunda maior em capacidade instalada pertencente à Companhia Paranaense de Energia (Copel) – são 1.260 megawatts de potência (…) Teve as obras iniciadas em 1987 e concluídas em 1992.
É a primeira hidrelétrica brasileira a apresentar projeto de impacto ambiental, sua barragem tem setecentos metros de comprimento e 145 de altura. É uma obra de engenharia complexa, que inclui um túnel de 4,7 quilômetros de extensão que a conecta ao Rio Jordão, permitindo o acréscimo de 10% em sua potência.
É também uma obra emblemática do rigor administrativo e financeiro adotado por Alvaro Dias em seu governo. Quando assumiu, uma empreiteira com sede em Curitiba acionara a Justiça para realizar a obra para a qual havia oferecido valor maior que o previsto no edital de licitação. Alvaro anulou a licitação, o que gerou nova e árdua disputa judicial com a empreiteira – o governo do Paraná contratou o jurista Miguel Reale como consultor -, pressões políticas, tentativa de suborno e ameaça de morte.
Uma das pressões teve como fonte a Assembleia Legislativa, que, acionada pela empreiteira, propôs o regime de administração direta, descartado pela direção da Copel por ter o custo final imprevisível. A proposta da Assembleia levou um emissário da empreiteira a oferecer a Alvaro, após jantar na residência oficial do governo, que a aceitasse em troca de doze milhões de dólares para “seus projetos políticos”.
Alguma coisa está errada, pois você está me oferecendo quatro vezes mais
Alvaro recusou a oferta, comparando seu valor aos três milhões de dólares que Renato Gaúcho, estrela do futebol brasileiro que jogava no Flamengo após passagem triunfal pelo Grêmio, havia recebido para mudar-se para o Roma. “Alguma coisa está errada”, ironizou Alvaro ao despachar o visitante, “pois você está me oferecendo quatro vezes mais, e eu parei de jogar há muito tempo por causa do joelho estourado”.
A ameaça de morte levou a Casa Militar a reforçar sua segurança, designando o coronel da Polícia Militar Itamar do Nascimento a chefiá-la e acompanhar Alvaro em todas as suas viagens.
Autorizada pela justiça, a obra foi realizada sem licitação por um consórcio de três empresas de porte médio e resultou na economia em relação ao preço inicial.
Paralisadas de 1969 a 1974, durante o governo Médici, as cassações de mandatos, amparadas nos atos institucionais um, dois e cinco – que fecharam o Congresso três vezes -, foram retomadas por Ernesto Geisel, atingindo no final do regime 173 parlamentares. Além de perderam os cargos, os parlamentares tiveram os direitos políticos suspensos por dez anos.
Vice-líder do MDB na Câmara dos Deputados – a titularidade era de José Alencar Furtado, cearense radicado no Paraná -, Alvaro recebia com frequência a informação de que seu nome constava da lista de cassações. E se alarmou quando dois colegas de bancada, os gaúchos Amaury Müller e Nadyr Rossetti, tiveram seus mandatos cassados em 1976. Além de colegas, jantavam com frequência com ele.
Sensibilizado pelas cassações, Alvaro fez um discurso contundente contra o regime militar ao participar de uma solenidade de formatura em Cruzeiro do Oeste (PR).
Alguns dias depois, os jornais de Brasília noticiaram que ele seria cassado. O discurso fora gravado. Alvaro se preparava para ser notificado oficialmente da perda do mandato quando soube que isso não aconteceria por intervenção de Francelino Pereira, deputado federal e presidente nacional da Arena, que destruíra a gravação. Defensor intransigente da ditadura, e no curso do quarto mandato de deputado, Francelino foi incapaz de permitir a punição do colega estreante.
(Francelino foi nomeado governador de Minas em 1979, encerrando sua carreira na Câmara dos Deputados. Alvaro discursava na tribuna em seu primeiro mandato de senador quando Francelino, em visita ao Senado, dirigiu-se à Mesa Diretora para cumprimentar seus integrantes. Alvaro interrompeu o discurso, pediu licença pela “inconfidência” e o agradeceu por tê-lo poupado da cassação. Ao encerrar o discurso, Francelino o abordou junto à escada e pediu licença para relatar o episódio no livro que estava preparando.)
Arredio à companhia de seguranças quando governador, Alvaro Dias protagonizou episódios insólitos. Um deles, decidiu juntar-se com a família em Guaratuba, em companhia do secretário de Esportes, Edson Gradia.
Alvaro viajou de avião fretado até Guaratuba, de onde seguiria de carro para Matinhos para se reunir com a família. A pessoa que deveria transportá-lo ao destino não compareceu ao aeroporto. Os dois seguiram a pé até a rodovia, pediram carona, e um caminhão se deteve. O motorista se espantou quando reconheceu Alvaro, e o deixou, com Gradia, próximo à balsa que liga Guaratuba a Matinhos. O governador se tornou a atração de tripulantes e passageiros da balsa.
A biografia “A travessia de Alvaro Dias” narra bastidores e fatos desconhecidos – alguns pitorescos, outros dramáticos – de sua atuação política, que se confunde com a história do país, do regime militar e do retorno e consolidação da democracia. Nesse período, Alvaro se destacou como opositor dos militares e, com o retorno da democracia, pela defesa das liberdades civis e da ética na vida pública.
Ele destacou-se entre os “autênticos” do PMDB, ala do partido que enfrentava com mais determinação o regime militar, e, por isso, esteve várias vezes na iminência de ser cassado. Numa delas, seu mandato foi salvo pelo deputado Francelino Pereira, presidente da Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de sustentação do regime. Pereira destruiu uma gravação incriminadora de Alvaro, que serviria de prova contra ele. O primeiro comício das “Diretas-Já”, campanha nacional deflagrada em 1984 para exigir a eleição e não mais indicação do presidente da República, foi coordenado por ele em Curitiba.
Seu governo no Paraná (1987-199) foi reconhecido como o mais bem-sucedido do país, que enfrentava grave crise econômica e hiperinflação. O comentarista Joelmir Betting, do Jornal Nacional, afirmou, em abril de 1991: “Apenas um estado brasileiro, apenas um, conseguiu fechar o ano sem déficit, e até com superávit acima de seis bilhões de cruzeiros. Mesmo com recessão que derruba receita, o Paraná está com todas as contas em dia. Sem cortar obras, sem atrasar pagamentos, sem antecipar receitas, sem lançar títulos.”
Alvaro desperdiçou a oportunidade, em 1991, de reeleger-se senador, função que exerceu antes de assumir o Palácio Iguaçu, porque para se candidatar teria de renunciar ao governo do Paraná um ano antes do final do mandato. Sua renúncia era tida como certa, a ponto de a Assembleia Legislativa ter organizado a cerimônia de transmissão do cargo para o vice, que já organizara seu secretariado, mas Alvaro surpreendeu a todos.
Justificando a permanência no Palácio Iguaçu, afirmou: “Não posso deixar o governo num momento em que as forças atingidas pela ação moralizadora da nossa administração, feridas em seus interesses escusos, se organizam para tramar até mesmo contra os interesses superiores do Estado.” Alvaro elegeu como sucessor Roberto Requião, mas ficou oito anos sem mandato, voltando ao Senado em 1998, onde permaneceu até janeiro deste ano.
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