Em entrevista ao Portfolio, o presidente da Câmara de Maringá, Mario Hossokawa, falou da relação conflituosa do governo Roberto Pupim e que Ricardo Barros antecipou a derrota de Silvio Barros para Ulisses Maia no segundo turno das eleições de 2018. Hossokawa conta que aconselhou o prefeito Ulisses abandonar a ideia de fazer a área de lazer conhecida como prainha e responsabilizou todos os últimos chefes do executivo pelas condições das arvores urbanas do município.

ENTREVISTA

Hossokawa aponta fatos positivos e negativos da gestão de Ulisses Maia

POR Marcelo Bulgarelli EM 15 DE outubro DE 2023

O presidente da Câmara de Vereadores de Maringá, Mário Hossokawa (PP), no início de uma vazia tarde de sexta-feira (13/10) pós feriado, com as dependêcias legislativas em total silêncio – não teve expediente -, recebeu os jornalistas do Portfolio, Marcelo Bulgarelli e Téle Menechino para uma entrevita solicitada na manhã do mesmo dia.

No decorrer da conversa de 1h23 minutos, ele revelou que aconselhou o prefeito Ulisses Maia a abandonar o projeto da prainha e a desistir do piso de borracha no entorno Parque do Ingá (“Viram no que deu, né? A enxurrada levou milhões“).

Também responsabilizou “todos os ex-chefes do Executivo pela falta de manejo adequado das árvores em vias urbanas” e disse que, se suas condições de saúde permitirem, vai tentar o oitavo mandato de vereador. As novas regras eleitorais, como federações e não coligações, “são boas, porque poucos partidos sozinhos conseguiram montar uma chapa completa”.

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Segundo ele, Silvio Barros (do seu partido) “já se comporta como pré-candidato a prefeito”. Observa que ele tem participado de eventos após às 18 horas de sextas-feiras, o que, devido à religião (Adventista) do ex-prefeito, até então não ocorria.

Já Homero Marquese, na análise do experiente vereador, corre riscos de sequer ter partido para disputar as eleições. “Ele não fez amigos e juntou inimigos”, sintetiza Hossokwa, que manifestou preocupação eleitoral com “a força que terá a união de dez partidos de esquerda num eventual segundo turno”.

Portfolio – O senhor está no sétimo mandato. Foi eleito vereador pela primeira vez em 1983, para a 8ª Legislatura, com 1. 182 votos. Para a 16ª Legislatura (2016/2020) o senhor teve a maior votação até aqui, com 3.746 votos. Para o atual mandato, foram 1.953 votos. O senhor será candidato a vereador no ano que vem?

Mario Hossokawa – Teve uma eleição que não me elegi, quando Roberto Pupim foi eleito e meu partido não fez nenhum (vereador). Mas eu fiquei dois anos como Chefe de Gabinete e outros dois anos como diretor do Procon. Então, não fiquei fora da atividade política. São 40 anos de vida pública.

Se eu tiver em boas condições de saúde, serei candidato. Sobre esse declínio de votos na última eleição se deve à pandemia, quando não fiz campanha política. Minha campanha é diferente de outras, pois faço em empresas junto com os funcionários e a comunidade japonesa.

Na pandemia não tinha como fazer isso. Mas teve eleição que eu tive 3.804 votos e fiquei fora da Câmara. Por isso é melhor fazer 1.953 votos e ser eleito (risos).  

P – São 12 anos como presidente da Câmara. Em qual deles a relação com o Executivo foi mais conflitante ou atribulada, digamos assim?

MH – Enquanto estive na Câmara (como vereador ou presidente) eu não vi nenhuma situação muito complicada com o Poder Executivo. Me lembro que na gestão do (Carlos Roberto) Pupin, eu não estava como vereador, mas trabalhando como Chefe de Gabinete e diretor do Procon, mas naquela época o relacionamento foi mais difícil. Havia muito veto do prefeito aos projetos de lei aprovados na Câmara. E ele também tinha dificuldades para aprovar os projetos na Câmara. Acho que foi o período mais difícil.

P – E nessa gestão?

MH – O relacionamento está bom, mas isso não significa que o prefeito consiga aprovar tudo nas Câmara. O prefeito Ulisses Maia tem o costume de conversar antes de mandar os projetos, principalmente aqueles que podem causar mais polêmica.

Ele (Luisínho Gari) era franzino e a esposa dele mais forte. Era ela que batia nele

P – Teve algum veto dele? Vocês derrubaram algum?

MH – Teve o feriado do Dia Nacional da Consciência Negra que a Câmara vetou. Outro que o prefeito vetou e a Câmara derrubou foi em relação ao nome do Parque Linear do Jardim Campos Elísios. O  projeto do vereador Dr. Manoel (Sobrinho) deu o nome do ex-vereador Luisinho Gari (falecido em 2021) ao parque. O prefeito vetou, a Câmara derrubou e virou lei.

P – Qual foi o motivo do veto?

MH – Teria sido o fato dele (Luisinho Gari) ter tido problemas com a esposa e também desacatado uma autoridade. Ele teria falado algo para a delegada e ela mandou prendê-lo.  O que se falava era que ele foi preso por ter batido na mulher, mas segundo o (vereador) Dr. Manoel, autor da lei e médico do Luisinho Gari, foi o contrário. Ele era franzino e a esposa dele mais forte. Era ela que batia nele.   

P  – O senhor disse que o prefeito sempre conversa com os vereadores. Ele tem uma bancada fechada aqui?

MH – Durante todo esse período que estou na Câmara eu nunca vi um prefeito ter um grupo de apoio sem construí-lo. Mas, automaticamente, da forma que ele conduz o relacionamento com Câmara, os vereadores automaticamenbte foram dando apoio e criando vínculos. Ele tem 13 vereadores que não são base de apoio, mas têm um bom relacionamento.

Quando o prefeito quer conversar com os vereadores sobre determinado assunto, ele chama 14 vereadores. Só não chama uma vereadora. (Cris Lauer).

Ela é muito polêmica e de difícil relacionamento. Na comemoração dos 16 anos da Guarda Municipal, ela invadiu a cerimônia levando um bolo e dizendo que não tinha nada para comemorar. Colocou o bolo no chão do palco, tomou o microfone e fez discurso esculachando a chefia da Guarda Municipal,  o secretário estadual de Segurança Pública e o próprio prefeito, que estava presente. Foi um ato desagradável num evento oficial.

P – Ninguém fez  nada?

MH – Ninguém, pois o prefeito não quiz. Disse pra deixar ela. A vereadora provoca as pessoas pra ver se alguém reage.

Nunca teve um prefeito que deu tantos benefícios aos servidores

P – Qual a avaliação do senhor em relação a atual administração?

MH – Tem pontos positivos e pontos negativos que já falei na presença do prefeito. Um fato positivo é o relacionamento dele com os servidores. Nunca teve um prefeito que deu tantos benefícios aos servidores, começando pelo Vale Alimentação. A questão da trimestralidade que se arrastava desde 1990, ele conseguiu negociar e está pagando parceladamente. Foi uma conquista para os servidores.  

Tem também a reposição da inflação. Ele nunca discutiu aquilo que é de lei. No governo Pupin, no ano de eleição, teve greve dos servidores por que o então prefeito não queria dar a reposição. Naquela época o índice de inflação era de quase 10%. Ele acabou dando de forma parcelada.  Nesse ponto de vista, o Ulisses tem um aval e aprovação muito grande dos servidores.

Mas tem coisas que eu particularmente e a maioria dos vereadores, não concordamos. Diante de tantas prioridades, como segurança, falta de vagas em creche e o problema da arborização, o prefeito resolve construir uma prainha. É um tipo de coisa que só desgasta ele.   

Eu também fui contra a pista emborrachada (calçada no entorno do Parque do Ingá). O prefeito queria o financiamento para fazer e chegou a enviar o projeto pra Câmara.  Aquilo é uma pista de caminhada, não é de atletismo. Aí o prefeito retirou o projeto dizendo que ira fazer com recurso próprio da prefeitura quando sobrasse dinheiro. E ele fez. Infelizmente deu no que deu: a enxurrada levou R$ 4 milhões embora (valor da pista emborrachada).

E tem a prainha.  Eu falei pra ele: prefeito, para com isso. Você esta se acabando com isso. A população não quer a prainha, o custo é muito alto. Em Porto Rico nós temos uma praia natural. Aqui, não. É terra vermelha. Vai fazer perto do Rio Pirapó e terá que colocar areia a cada três meses. E a manutenção? Quanto vai custar? E a segurança? E tem também que virá gente de fora, de Iguaraçu, de Munhoz de Melo, de Santa Fé… E como vão controlar? Terá exame médico para frequentar aquilo ali?

Argumentei tudo isso com o prefeito. Lembrei que quando um sujeito está dirigindo um carro e estoura o pneu devido a um buraco, ele logo xinga o prefeito e pensa: pra consertar as ruas não tem dinheiro, mas pra fazer a prainha, tem. 

Nada anda bem em relação à prainha.

P – E a prainha será feita mesmo?

MH – Não sei se ele ainda está com essa predisposição. Mesmo ele começando agora, não terá tempo de terminar.

P – Mas não vimos nenhuma licitação, nada.

MH – Ainda não chegou nessa fase. Nem sei se já pagaram o terreno que está sendo desapropriado e que já teve até questionamento de superfaturamento… Nada anda bem em relação à prainha.  

P – E a arborização tão comentada depois das centenas de quedas de árvores nos últimos vendavais?

MH – A culpa não é só dele (Ulisses Maia). Em fevereiro do ano passado já deu uma ventânia forte.. Agora tem empresa e residência sem água e energia. Eu já falava desde a época do (prefeito) José Cláudio: Maringá não pode deixar essas árvores do jeito que estão. Elas têm vida útil e entre as espécies plantadas, a sibipiruna, cresce demais e não consegue se sustentar quando alcança 30 ou 40 metros de altura, ainda plantada na calçada. Não tem área permeável pra raiz crescer. A árvore vai cair e matar gente. Já fiz um apelo na tribuna para o prefeito contratar, quatro ou até sete empresas terceirizadas para fazer a substituição gradativa dessas árvores. Plantar outras espécies, que não crescem tanto.

Agora tem gente colocando a culpa na Copel devido à falta de luz (depois do vendaval). A Copel é a menos culpada. A maior culpada é a própria prefeitura, que deixou as árvores do jeito que estão e derrubaram quase duzentos postes. Mais de quinhentas casas ficaram sem luz.

Todos os ex-prefeitos têm a responsabilidade, mas isso vai ocorrer de novo devido ao aquecimento global. Vai aumentar a queda de árvores e vamos perder vidas também.

Está caindo muita água em relação a antigamente. E nossas galerias não dão vazão. A cidade nunca teve inundação e agora tem em muitos pontos da cidade.

Nós acreditamos que será o Silvio Barros. Ainda não bateram o martelo, mas pelo comportamento dele, acho que está com vontade

P – Quanto anos o senhor está no PP (Partido Progressista)?

Desde o ano que perdi a eleição para vereador, em 2013.  

P – O PP terá candidato a prefeito?

Vai ter sim. Nós acreditamos que será o Silvio Barros. Ainda não bateram o martelo, mas pelo comportamento dele, acho que está com vontade de sair (candidato).  Nas sextas-feiras à noite, ele participou de três a quatro eventos. Ele não costumava fazer isso, mesmo quando era prefeito. Sexta-feira depois do sol, ele não ia para lugar nenhum (Silvio é adventista).

Na última Páscoa, ele e o Ricardo Barros saíram num domingo, distribuindo ovos de chocolate para os presidentes de bairro. Só um candidato faria isso.

Ele (Silvio) já fez duas reuniões com lideranças de bairros pra fazer o plano de governo . Fala que é do partido. Não fala que é dele. É comportamento de quem é candidato.

Ulisses não tem outra saída: o candidato dele terá que ser o Scabora.

P  – E do grupo do prefeito?  Quem será o candidato?

MH – Tem o Flávio Mantovani, o Clóvis (Augusto de Melo), o (Francisco) Favoto e o Edson Scabora, que é vice-prefeito. Mas entendemos que Ulisses não tem outra saída: o candidato dele terá que ser o Scabora.   

O Mantovani está investindo bastante na mídia, mas as pesquisas mostram que ele não tem atingido um patamar que mostre que está crescendo. O problema do Flávio é que ele não tem grupo.  Igual ao (Wilson) Quinteiro. Por que ele nunca conseguiu ganhar uma eleição?

O Scaborra está trabalhando muito. Se vai adiante não sei. Ulisses é diferente. Vai nos bairros, a criançada gosta de tirar fotos com ele, é jeitoso para lidar com as mulheres e com o pessoal mais humilde. Tem um jeito especial, e onde ele vai, conquista as pessoas.

Eu até estranharia o Silvio Barros fazer o que Ulisses faz. É mais sério. Não é popular nem populista, mas é muito inteligente.

Homero ainda tem tempo para mudar de partido. Difícil será encontrar algum partido que aceite ele

P – Será a primeira eleição municipal com as novas regras eleitorais. O que muda?

MH –  Para quem tem cargo proporcional, como é o caso de vereadores e deputados, você não é obrigado a ficar num partido que se fundiu quando se forma uma federação. Pode mudar de partido devido à ideologias diferentes. Acho a federação uma boa saída, pois não está fácil para um partido sozinho montar uma chapa completa.

Aqui (Maringá), cada partido tem que ter 24 candidatos, sendo 30 por cento de mulheres. Então, tem muito partido que não vai montar chapa e não eleger ninguém. Mas é difícil fazer agora uma análise das federações se isso vai ser bom ou ruim.

A proibição das coligações para proporcional é outro complicador. Tem gente que pode ficar sem partido. Um exemplo é o Homero (Marchese).  Ele faz propaganda na TV, aparece no horário dos Republicanos. Porém o Valdemar Bernardo Jorge, secretário do Ratinho, era o presidente estadual do Republicanos, mas perdeu o partido porque a direção nacional tirou da mão dele e deu o Republicanos para o Marcelo Almeida, da empresa CR Almeida. Então, parece que esse novo presidente não vai dar a legenda para o Homero ser candidato. Parece que ele vai se unir a outro grupo.

Ele ainda tem tempo para mudar de partido. Difícil será encontrar algum partido que aceite ele. Fez muita inimizade. O Ricardo Barros , Ulisses Maia e o  Do Carmo (vereador) tem influencia sobre partidos. Ninguém deles quer saber do Homero.  

Mas esse pouco não vem pra nós, me disse o Ricardo (Barros)

P – E o PT nas próximas eleições ?  Como o senhor acha que vai ficar?

MH – O PT não terá candidato, mas uns nove ou dez partidos de esquerda estão se unindo para lançar um candidato. Não há um nome ainda, mas a (vereadora) Ana Lúcia Rodrigues se coloca à disposição. Mas também estão querendo o (ex-vereador) Humberto Henrique (Podemos.,  Seria um ótimo nome, mas queriam que ele se filiasse ao PT.

Ele já foi do partido e chegou a ser candidato do PT a prefeito. Havia sido um ótimo vereador. Um cara decente é o Humberto Henrique. Mas no segundo turno, quando as pesquisas mostravam o Silvio com o Quinteiro, o PT resolveu descarregar tudo no Ulisses. Todos os partidos de esquerda ficaram com Ulisses. Foi aí que o Silvio acabou perdendo para o Ulisses de forma inesperada.

A  eleição (no primeiro turno) foi num domingo e na segunda-feira fui conversar com o Ricardo. Eu disse pra ele: Ricardo, e agora? A diferença foi pouca. E ele respondeu: ‘Mário, perdemos a eleição’.  Mas falta pouco, comentei. ‘Mas esse pouco não vem pra nós’, disse o Ricardo.  Esse pouco foi todo pro lado de lá (Ulisses).

Estou preocupado com essa união entre dez partidos em que o Mário Verri está liderando.

Eu que sou do PP, estou preocupado com essa união entre dez partidos em que o (vereador) Mário Verri está liderando. Minha preocupação não é eles ganharem a eleição. Mas é no segundo turno. Se, por exemplo, der Silvio Barros com o Do Carmo ou Scaborra, essa turma toda (esquerda) vai contra o Silvio.

E vai dar segundo turno. Vamos supor que UIisses apoie o Scabora e Silvio e Do Carmo também saíam como candidato. E esse grupo de dez partidos também lance um nome. Com certeza será um peso no segundo turno.

Dizem que em Maringá a esquerda não ganha, mas tem seus 20 por cento de votos. É o que o Ênio (Verri) e o Mário (Verri) sempre falam: não adianta que aqui em Maringá nunca mais o PT voltará a ganhar uma eleição para prefeito. A tendência aqui é a direita. Não adianta lançar candidatos aqui. Ele mesmo (Mário) fala que não ganha aqui se sair candidato, por causa do partido. Ele mesmo não tem nem mesmo como ganhar a presidência da Câmara porque a cidade não quer o PT no poder aqui.

Leia também : Já são pelo menos 18 nomes cogitados a prefeito de Maringá

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